adam

20/02/2012 10:14

 

ADAM - Ao longo dos séculos, o Mundo Divino de Azilut recebeu numerosos títulos e foi descrito de diferentes maneiras. Alguns rabinos viram-no com a Túnica de Luz com que D’us envolve a Divina Presença; alguns o simbolizaram com o Shem ha Meforash, “o muito especial Nome de D’us”, representado pelas quatro letras YHVH. Foi chamado a Glória de D’us e em certo momento da história da cabala, foi projetado na imagem de uma grande figura humana radiante chamada o Yabod. Este Homem Divino aparece na visão do profeta Ezequiel, que viu os Quatro Mundos como a imagem de um homem (Azilut) sentado num trono celestial (Beriah) colocado sobre um carro (Yezirah) o qual, por sua vez, avançava sobre a terra (Asiyyah).

 O primeiro Homem Azilútico, inspirado (como cada um de nós) na configuração das dez Sefirot, foi, pois, um Adão antes de que o Adao do Gênesis fosse criado e formado; seu nome é Adam Kodmom. É o primeiro dos quatro reflexos de D’us que se torna manifesto ao estender a existência a partir da Divindade até a Materialidade, antes de voltar a unir-se de novo no Fim dos Tempos. Adam Kodmon contém tudo aquilo que é necessário para completar a tarefa da semelhança Divina. É ao mesmo tempo espelho e observador, e dentro de seu ser possui vontade, intelecto, emoção e capacidade de ação. Mas, acima de tudo, Adam Kadmon está consciente do Divino, embora no momento de sua inspiração, apenas tenha conhecimento inocente disso, assim com um peixe está inconsciente do mar onde vive. Apenas depois de uma descida através de todos os Mundos chegará a conhecer por experiência todos os aspectos da Divindade, percebendo em si mesmo e no universo a face de D’us; seu reflexo, contudo, como o de qualquer espelho, é apenas uma imagem, nunca a realidade. O contato direto apenas se dá por meio da Graça, ou através da Conclusão do ciclo completo, em ambos os casos, através da Manifestação e voltando à sua origem através de Teshuvah, ou redenção.

  A composição de Adão Kadmon se baseia na Sefirot. Enquanto a Árvore da vida cresce para baixo a partir da Coroa, Adam Kadmon  permanece de pé. Por cima de sua cabeça está Keter, a Coroa, enquanto as duas Sefirot laterais da Sabedoria e do Entendimento, Hokhmah e Binah, estão relacionadas com seus dois hemisférios e sua garganta, pois é ai onde ele vê, ouve, cheira e fala. As Sefirot do coração, Gevurah e Hesed, a justiça e a misericórdia, estão colocadas à esquerda e à direita de seu peito; enquanto a Sefirah central, Tiferet ou o eu, se situa sobre seu plexo solar. As duas Sefirot interiores, exteriores e funcionais, Hod e Nezarh, estão associadas às pernas e o Yesod, o Fundamento generativo, aos órgãos genitais; Malkhut, o Reino, encontra-se a seus pés. Geralmente, embora nem sempre, é representado de costas, tal como Moisés viu a imagem Divina Cêxodo 33:20. “Pois nenhum homem que tenha visto (Meu Rosto) viverá”. De modo que os lados ativos e passivos encontram sua posição natural à direita e à esquerda do Pilar central da espinha dorsal.

 

  “O homem contém tudo o que está em cima, nos céus, e em baixo sobre a terra, tanto as criaturas terrestres, como as celestes; por esta razão, o Ancião entre os Anciões escolheu o Homem como sua Divina manifestação. Nenhum Mundo poderia existir antes de Adão ter recebido vida, pois a figura humana contém todas as coisas e tudo o que é existe em virtude dele.”

                                                                            (ZoharI)

  Em Beriah, Adão, existindo agora como entidade separada a nível do espírito, ainda não tinha sido posto à prova, pelo que a manifestação da imagem de D’us foi projetada no interior do terceiro Mundo da Formação, Yezirah, ou o Éden. Ali, os dois aspectos, macho e fêmea, já separados, mas relacionadas entre si, assumiram o papel ativo e passivo (ou, conforme definem alguns cabalistas, a relação interna entre Adão o espírito e a alma de Eva). Com a instrução da tentação em seu mundo idílico, deu-se o rompimento deliberado da única regra que lhe fora imposta. Com ela chegou o Conhecimento do Mundo da Criação e a possibilidade de comer da Árvore da Vida, isto é, Azilut; assim foram precipitados no Mundo inferior da materialidade e receberam túnicas de pele (Gênesis, 3:21), isto é, corpos carnais. Ali foram submetidos ao maior número de leis, para resguardarem-se relativamente ao universo das conseqüências de seu livre arbítrio até amadurecerem e adquirirem maior responsabilidade. Sob forma mitológica, esta é uma explicação de como chegamos à terra. Alguns cabalistas consideram que o acontecimento da Queda foi previsto por D’us, como um pai que deixa a criança cometer uma falta para aprender. Desta forma, Adão experimenta todos os níveis da existência, tanto para cima como para baixo, no seu intento por recuperar, primeiro o Éden, depois o céu da Criação e, finalmente, a União com o Divino.

  “O arcanjo Metraton disse ao rabino Ismael. “Vem e eu te ensinarei os espíritos dos justos que foram criados e que voltaram, e os espíritos dos justos que ainda não foram criados.” (Livro hebraico de Enoch, Palestina-Babilônia (?) séc. III).”